terça-feira, setembro 16, 2008

TEATRO GREGO: COMÉDIA



TEATRO GREGO: COMÉDIA – A comedia aparece em pleno Classicismo grego, por vlta de 500 a.C. Originada da parte mais alegre do ditirambo – o cântico improvisado das primitivas procissões dionisíacas – a comédia encerrava os festivais atenienses mostrando aos espectadores que o teatro é uma grande brincadeira. Os gregos associavam a comedia a personagens ridículas representadas como pessoas absurdas e ofensivas. Apresentada como uma forma burlesca da tragédia que a precedera, a comedia nem por isso deixava de dirigir criticas mordazes às instituições e às pessoas notáveis. Os próprios deuses eram objeto de sua contundente jocosidade.
Na chamada comédia antiga de Atenas, a inspiração mística dos ritos de fertilidade funde-se harmoniosamente com a influencia popular, satírica dos bufões primitivos e o resultado da fusão é fecundado pela contribuição criativa dos poetas, cujos textos conferem ao gênero autentica dimensão estética. Ao mesmo tempo, a comédia antiga traduz, com fidelidade não menor do que a tragédia, a essência da sociedade do seu tempo: uma sociedade livre e comunitária.
A comedia antiga constituía um gênero tão nitidamente cristalino quanto a tragédia, com a qual possuía consideráveis semelhanças estruturais. A representação iniciava-se com um prólogo, que esboçava a situação ou o problema central e propunha para a sua solução idéias às vezes baseadas numa fantasia inteiramente ilógica. Seguia-se o párodos, ou a entrada do coro, cujos integrantes se fantasiavam frequentemente de animais. O agôn, conflito ou debate, colocava o protagonista às voltas com dificuldades e obstáculos que ele acabava superando através de recursos variados. Na quarta parte, a parábasis, os coreútes, abandonando pelo menos parcialmente seu papel dramático, adiantavam-se na direção da platéia e dirigiam-se ao publico, em nome do poeta. O espetáculo prosseguia com o desenrolar dos episódios cômico-dramaticos entremeados com intervenções presumivelmente cantadas do coro.
A obra não tinha, porém, estrutura organica de uma peça, no sentido moderno: era uma sucessão de episódios mais ou menos soltos, mais próxima, talvez, daquilo que mais se conhece como teatro de revista. Estilisticamente, trechos de elevado lirismo alternavam com manifestações de parodia, sátira, obscenidade e de uma fantasia que se poderia quase chamar surrealista. Dentro dessa mistura de ingredientes, nunca faltava, porem, o essencial elemento de critica, a atualidade social, abrangendo os seus aspectos filosóficos, materiais, políticos e artísticos. Considerando a importância desse elemento critico na comedia antiga, compreende-se que o gênero só possa ter atingido o florescimento que alcançou numa sociedade eminentemente democrática, como Atenas do sec. V a.C., isso apesar de a critica social dessas comedias adotar em geral uma posição conservadora, de defesa dos valores tradicionais contra as ameaças de decadência moral.
Na Grécia clássica, o conceito das apresentações teatrais estava ligado, por um lado, à noção de festa e, por outro lado, à idéia de competição. As festividades teatrais como as dionisias, dedicas a Dioniso, deus sob cuja inspiração se desenvolveu o fenômeno dramático, eram realizadas ao menos duas vezes por ano. A principio, as comédias não participavam dessa promoção, mas cerca de meio século após a oficialização do concurso, em 486 a;C;. também foram incluídas, passando a ser apresentadas à tarde, enquanto a manhã era ocupada pelas tragédias.
Quando entraram em contato com os gregos, os romanos ficaram particularmente encantados com as divertidas possibilidades que os comediógrafos ofereciam para distrair patrícios e plebeus. Mas antes de adotar o gênero, tiveram o cuidado de apagar daquele qualquer taco político ou religioso, encampando o que as comedias tinham de mais secular e lúdico. Assim, às contundentes ironias políticas de Aristófanes, preferiram seguir o exemplo das sátiras de Menandro (342-291 a.C), mais elegantes e com marcada preferência por temas individuais – problemas familiares e amorosos, aventuras de tristes crianças abandonadas e reencontros românticos.
Na sua “Poética”, Aristóteles distingue a tragédia, dos sofistas do ditirambo e a comédia dos solistas dos cantos fálicos. Para ele, a comédia é imitação de homens inferiores, referente àquela parte do torpe que é o ridículo.
ARISTÓFANES – Os concursos das dionisias atenienses parecem ter sido dominados por um triunvirato integrado por Cratino, Êupolis e Aristófanes (445=385 a.C). conhecem-se os títulos de muitas obras de Cratino e Êupolis, mas apenas trechos esparsos de algumas delas. As 11 das 44 peças de Aristófanes que chegaram até hoje algo intactas permitem identificar o seu autor como o representante Maximo da comedia antiga. Todos os principais temas da atualidade ática – o conflito com Esparta, controvérsia sobre os métodos de educação, debates filosóficos, reação ao poder econômico da Pérsia, papel da mulher na sociedade, rivalidades artísticas, surgimento da classe média – refletem-se através das alusões mordazes e de invectivas diretas, na obra de Aristófanes. Mas ele transforma essa matéria-prima social em produto poético não só pela delicadeza lírica de muitos versos, mas também pela magnífica exuberância sensorial, que atinge mesmo aquilo que numa visão moderna se chamaria licenciosidade e obscenidade, noções que na Grecia antiga não possuíam conotação pejorativa. Mesmo trocadilhos e alusões circunstanciais de Aristófanes estão eternizados na força poética-comica do autor.
MENANDRO – A derrota de Atenas em 404 aC;. Provoca modificações na sociedade ateniense, que resultam em rapido declínio da comedia antiga. O período entre 400 e 320 aC., marca uma transição: a força ritual é atenuada, os elementos de fantasia abandonados, a critica social e o debate dos temas de atualidade tornam-se menos veementes, já não há alusões diretas a pessoas vivas, a comedia tende a tornar-se mais romântica. A parábasi é abandonada, o coro reduzido a interlúdios pouco significativo entre os atos. O gênero que surge dessa transição é chamado de comedia nova. Esse tipo de comedia ateniense é uma peça estruturada, com enredo complexo e rico de incidentes, mas sujeito a uma sequencia lógica, com personagens claramente definidos como tipos. A trama oferece poucas variações; em geral trata-se de amores contrariados por diferenças de fortuna ou de berço que encontram seu desfecho feliz graças a uma súbita revelação da verdadeira identidade dos protagonistas. A comedia nova é produto típico da sociedade em vias de aburguesamento: superficialmente complexa, inócua, na temática, tendendo para o realismo na forma, proporciona ao espectador um prazer que hoje se chamaria digestivo. A evolução posterior da comedia inspirou-se mais nas convenções da comedia nova do que na audaciosa liberdade criadora da comedia antiga. Dos autores da comedia nova, tais como Filemon, Difil ou Filipides, conhecem-se apenas poucos e pequenos fragmentos. Só de autoria de Menandro (342-292aC), sobrevive algo intacta uma comedia inteira, Mal-humorado, e consideráveis fragmentos que permitem a reconstituição de quatro outras obras. Esse material mostra Menandro como o mais inspirado comediógrafo da época. Não só todas as características convenções de situação, de peripécias e de personagens-tipos, como o velho-avarento, o velho tolo e bondoso, a cortesã generosa, entre outras, podem ser encontradas na sua obra, mas também ele transcende as limitações da convenção pura, através de uma elaboração cômica bastante complexa, de um dialogo ágil e de um certo calor humano com que tratou os seus personagens.

FONTE:
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