sexta-feira, março 20, 2009

NÊNIA DE ABRIL



Música de Luiz Alberto Machado sobre poema de Sérgio Campos - memória.

Sou um poeta obscuro.

Os meus companheiros são poetas obscuros.

Nosso país é o amor subterrâneo em sagração de interiores catedrais.

Porquanto seja nosso pranto anônimo, choramos nossos mortos sozinhos.

Nosso embalar ainda é canto inaudível nas praças e nas avenidas do povo.

Lambemos nossas feridas ignoradas e nossos cantos codificam perdas.

Mas se o país é triste somos tristes porque é de nós sofrer a aflição geral.

Somos cidadãos de um trágico país cuja desgraça ataca sempre e cedo.

Antes que os nossos filhos denunciem o luto secular de seus abris.

O que é melhor em nós desfaz-se em perda.

O que tocamos nos trai com seus punhais.

Perpetramos nosso sonho coletivo e o velamos, mas quando tangemos é tarde demais.

Enfim quando se vai o que é do povo
Aqui na terra se depõe perto de nós.

É quando os obscuros cantam suas nênias
Para embalar o amado enquanto morto.

Sou um poeta obscuro.

Meus companheiros são poetas obscuros.

Nosso país é o amor.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Música, voz e violão de Luiz Alberto Machado sobre poema de Sérgio Campos. Produção, edição & arte: Derinha Rocha.

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