quinta-feira, fevereiro 03, 2011

ELBA RAMALHO: 30 ANOS



ELBA

Luiz Alberto Machado

Há mil cantos no teu seio milumanoites milumamor
Ei-la jogando a sua voz agreste do leste no meu coração
Ei-la no sol que inaugura seu cabelo de guerra de terra & amor
E ela vem despertando furor minultima emoção milágrima
E eu me deliciando com seu jeito cantando o mundo & eu tocantando história de vaqueiro homenino de gente sem cor sem
E ela é um sonho de menina que dorme no quarto com cinturinha de pilão espiando o passado que dorme e os farrapos de esperança os beijos de antípodas e as ocasiões oh não!
Ela vem com seu cheiro matutino voz de língua afiada no meu sexo como o transe que se oferece à emoção ao alcance da mão & eu cantor derradeiro com a certeza do rio corrente armando revés no seu canto agora sim!
Ela vem dos teréns e com a urgência do amor o que significa pra mim a vida da minha fada madrinha.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

ELBA RAMALHO: 30 ANOS - Filha do sertão nordestino, dona de um timbre inconfundível e de uma energia eletrizante, Elba Ramalho mantém a verve de iniciante e continua a contagiar o público por onde passa e a levar seu canto agridoce para as mais diversas platéias nacionais. Com três décadas de carreira, a Ave de Prata continua a dar um banho de musicalidade. São mais de 30 anos de uma carreira iniciada no final da década de 70, quando, após integrar o elenco da montagem original da peça “A ópera do malandro”, de Chico Buarque, surpreendeu o país com o LP “Ave de Prata”, inspirado na composição homônima de Zé Ramalho. O disco já incluía canções de compositores nordestinos, uma das marcas da cantora ao longo da carreira, além da faixa “Não sonho mais”, de Chico Buarque. Filha do nordeste brasileiro, nascida no alto sertão da Paraíba, sob o signo de Leão, cercada de religiosidade e fé, Elba herdou a musicalidade de seu pai, que a despertou cedo para a mais sublime das formas de comunicação; a música. Foi também rodeada pelo solo seco e vegetação árida que a cantora se familiarizou cedo com os mais diversos ritmos da região: baião, maracatu, xote, frevo, pastoril, caboclinhos e forrós. Gêneros que preservam a pureza de uma cultura eminentemente popular. Elba iniciou a experiência musical tocando bateria no conjunto “As Brasas”, formado somente por mulheres. Isso foi em 1968, ano em que também cursava as faculdades de Economia e Sociologia. Foram cinco anos de estudos, mas o diploma não veio. O conjunto musical se transformou em grupo teatral. Mesmo optando pelo teatro, Elba continuava a cantar, participando de diversos festivais pelo nordeste. Em 1974, trocou a Paraíba pelo sul do país, chegando ao Rio de Janeiro com o Quinteto Violado. Na capital fluminense se estabeleceu como atriz de teatro, mas sempre em musicais, onde a atriz encontrava a intérprete. Em 77, participou de “Morte e vida severina”, filme inspirado na obra de João Cabral de Melo Neto. Em 78, integrou o elenco da peça “A ópera do malandro”, de Chico Buarque. Sua interpretação de “O meu amor” com Marieta Severo lhe valeu prêmios e seu primeiro contrato como cantora com a gravadora CBS. Rapidamente desponta no meio musical e passa a integrar com justiça o primeiro time da música popular brasileira. Popular brasileira, esta é a palavra-chave de sua trajetória. Os discos se seguiram a cada ano, juntamente com shows que cada vez marcavam mais o seu domínio dos palcos. Seus espetáculos abrangem todos os públicos. São shows em grandes teatros, arenas, feiras agropecuárias, festivais de jazz, festas juninas, carnavais, festivais de rock, convenções e todos os tipos de eventos. Sua voz única já foi igualmente ovacionada nos grandes palcos internacionais, como o Olympia, de Paris, o Blue Note, de Nova York, o Brixton Academy, de Londres, e o Festival de Montreaux, na Suíça. Elba justifica a imensa abrangência do seu público pela versatilidade do seu trabalho. Não existe nada de standard em seu canto, que domina com a mesma propriedade canções típicas do nordeste brasileiro, baladas românticas, rocks, sambas e até o blues norte-americano. Em 96, lança o bem sucedido LP “Leão do Norte”, inspirada na canção de Lenina e Paulo Cesar Pinheiro que exalta a cultura pernambucana. O show homônimo, dirigido por Jorge Fernando, é sucesso absoluto em todo o Brasil e arremata o prêmio de “Melhor show do ano”, pela Associação de Críticos de Arte de São Paulo. Naquele mesmo ano, excursiona com o show “O grande encontro”, juntamente com Alceu Valença, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo. O primeiro disco da trilogia vende mais de 1 milhão de cópias e se firma como repertório essencial de uma época. “Baioque” é o projeto musical de 1997. Enquanto disco, Elba repetiu o sucesso anterior ao entregar a produção musical a Robertinho do Recife. Como show, mais uma vez Elba firma parceria com Jorge Fernando e arrebata as platéias de norte a sul. Logo em seguida, lança mais um grande sucesso, “O grande encontro II”, desta vez com Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. E mais uma vez, roda todo o Brasil em turnê. No ano de 98, é a vez de “Flor da Paraíba”, um CD no qual Elba escolheu um repertório em que resgata os sentimentos nordestinos. A intérprete buscou jóias do cancioneiro que valorizam a riqueza do universo da MPB. O nome do álbum é inspirado em uma dedicatória feita, há muitos anos, por Caetano Veloso, quando a cantora acabara de chegar ao Rio de Janeiro para despontar no meio musical. Em 1999, Elba Ramalho comemorou “Vinte anos de carreira”. Às vésperas do novo milênio, preparou o álbum duplo “Solar”, com uma parte gravada em estúdio, durante os festejos juninos na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, e outra ao vivo, com arranjos de Wagner Tiso (“Canção da despedida” e “Imaculada”) e Jaques Morelenbaum (“Palavra de mulher”). O disco conta com as participações de Chico Buarque (“Não sonho mais”), Zé Ramalho (“Ave de prata”), Lenine (“Nó Cego”), Nana Caymmi (“Imaculada”), Geraldo Azevedo (“Kukukaya”), Margareth Menezes (“Quem é muito querido a mir”) e, tem participações de Dominguinhos (“Retrato da vida”) e Alceu Valença (na inédita, “Trem das ilusões”). Em seguida ao lançamento do CD no Brasil, Elba segue em turnê para a Europa, passando por festivais de diversos países, entre eles em Portugal, Itália, Alemanha, Suíça e França. O ano 2000 volta a reunir novamente Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho com o CD e DVD “O grande encontro III – Ao vivo”, gravados durante um show no Rio de Janeiro com participações especiais de Lenine, Belchior e Moraes Moreira. Inquieta, Elba não para, seguindo com Geraldo Azevedo para Los Angeles, EUA, onde gravaram um disco ao vivo. No repertório do disco, destinado ao mercado norte-americano, estão os maiores sucessos dos dois artistas. Retornando ao Brasil, Elba recebe o convite para participar do Rock In Rio III, juntamente com Zé Ramalho. Os primos preparam um grande show, relembrando vários sucessos na cidade do rock. Vale frisar que Elba é a única artista brasileira a participar de todas as edições do Rock In Rio no Brasil. O CD “Cirandeira” foi o lançamento de 2001. Repleto de forrós, xotes e baiões, o trabalho quebrou as barreiras do regionalismo e conquistou o sul do Brasil. Lenine abre o disco com a música-título “Cirandeira”, transportando o ouvinte ao mar de Itamaracá. Os trabalhos que vieram na seqüência em 2002, 2003 e 2005 marcaram homenagens ao nordeste brasileiro e seus grandes compositores. Em “Elba Canta Luiz”, de 2002, a paraibana se volta para a obra do rei do baião, principal nome responsável pela popularização dos gêneros nordestinos no eixo Rio-São Paulo. Elba transita com familiaridade por canções como “O xote das meninas” e “Vem morena”. O CD rendeu ainda belo DVD gravado no Rio de Janeiro. Ainda na mesma seara do velho sertão, a cantora lança no ano seguinte “Elba ao vivo”, que inclui - além de clássicos de Luis Gonzaga, como “Asa branca”, “Qui nen jiló” e “Assum preto” – a bela “Luar do sertão”, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense. Elba busca de renovação e retorna ao estúdio em 2007, quando lança o CD “Qual o assunto que mais lhe interessa?”, em que atualizou o repertório, mantendo a coerência artística de seus projetos anteriores. Produzido por Lula, Yuri e Tostão Queiroga, o CD coloca em discussão temas que ocupam os noticiários e questionam a contemporaneidade. Dos nordestinos habituais - frevo, boi maranhense, ciranda, xote - ao samba tradicional bem ao gosto do carioca, Elba transgride rótulos e dilui fronteiras entre canções nunca registradas em sua voz e inéditas. O álbum lhe valeu o Grammy Latino 2008 na categoria regional contemporâneo e inspirou o DVD “Raízes e antenas”, lançado em 2008, que retrata a atual fase da artista em misto de documentário e registro ao vivo. Elba retornou a Conceição, sertão paraibano onde nasceu e rememorou sua origem ao lado de seu pai, João Nunes, de 90 anos. Sua intimidade familiar aparece em recortes na bela “casa-refúgio” em Trancoso ou em sua residência no Rio, que fornecem um perfil humano da artista. O ano de 2009 marca as três décadas de estrada. A artista já prepara o álbum “Balaio de amor”, em que retorna ao nordeste num álbum de baladas românticas com canções da nova safra de compositores do nordeste. E dessa maneira, Elba segue firme, levando seu canto maduro e ainda hoje marcado pela originalidade e beleza.
A cantora e atriz está lançando o CD e DVD intitulado Marco Zero, que apresenta canções que marcaram a sua trajetória profissional, como Leão do Norte, Admirável Gado Novo, De Volta Pro Aconchego, Morena de Angola, Chão de Giz e Tropicana. Nos quatro shows, no Sesc Vila Mariana, Elba terá a companhia dos músicos Zé Américo Bastos (teclados e direção musical), Cezinha (arranjos e acordeão), Marcos Arcanjo (guitarra e violão), Ney Conceição (baixo), Anjo Caldas (percussão) e Durval Pereira (zabumba). Elba Ramalho gravou o CD e o DVD em março do ano passado, em meio a uma grande festa realizada em Pernambuco, no centro histórico de Recife, na praça Marco Zero. O registro dos trinta anos de carreira da cantora não poderia ser feito de outra maneira, pois um dos méritos da artista é levar ao palco muita dança, alegria e animação, com canções que representam a qualidade da nossa música popular. Além disso, a sua bonita voz, a sua afinação e a maestria na interpretação das canções a colocam entre as grandes divas dos palcos brasileiros. Ouvir Elba cantar é um privilégio. Emociona ver e ouvir as suas interpretações para um cancioneiro tão rico como o brasileiro e quem ainda não a conhece pessoalmente, eis uma ótima oportunidade para se dirigir ao Sesc Vila Mariana. Mas é preciso verificar antes se ainda há ingressos disponíveis. A direção musical é de Cesinha do Acordeon e a direção geral da própria Elba. SERVIÇO Dias: 03, 04 e 05 de fevereiro, às 21h e 06 de fevereiro, às 18h Teatro Sesc Vila Mariana – 608 lugares Rua Pelotas, 141 Tel: para informações: 11 5080-3000 Informações: 0800 118220 Ingressos: R$ 40,00 (inteira); R$ 20,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) R$ 10,00 (comerciários e trabalhadores em empresas do comércio de bens, serviços e turismo)

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