segunda-feira, setembro 01, 2008

TEATRO GREGO: EURIPIDES



EURÍPEDES – A vida de Eurípedes é narrada em numerosas versões. Uma delas, fruto da tradição erudita antiga, assinala o ano de 480 a.C.,, como o de seu nascimento. Porem, estudiosos mais modernos preferem dar credito à inscrição de mármore de Paros – uma cronografia grega do século XXX a. C -, que situa no ano de 484 a.C., a data de seu nascimento na cidade de Salamina. A origem do grande tragediógrafo grego também é objeto de controvérsias. Segundo alguns de seus contemporâneos, Eurípedes era filho de um taverneiro, Mnesáquidas, e de uma verdureira, Clito. Mas o historiador Filocoro, mostrando-o como portador da chama nas procissões do deus Apolo, nega essa filiação humilde, pois só os adolescentes de elevada condição social podiam exercer tal função. Seja qual for a verdade, o certo é que Eurípedes recebeu uma educação completa nos moldes da época. Foi discípulo de filósofos como Anaxágoras e Protágoras, cujas idéias o influenciaram; foi também treinado em atividades atléticas, que logo abandonou. Preferiu compor as partes cantadas de suas tragédias. Sob o governo de Péricles – a quem admirava a ponto de exaltá-lo em algumas peças -, Euripedes viu Atenas florescer e embelezar-se. Obrigado a abandonar a cidade, provavelmente por blasfêmia, Euripedes seguiu para Magnésia, na Asia Menor. Depois, em 408 a.C., transferiu-se para a Macedônia, onde se hospedou na corte do rei Arquelau. Ali encontrou o musico Timeteu, o pinto Xêuxis, o historiador Tucidides e outros nomes ilustres de Atenas, com eles formando uma espécie de universidade no exílio. Morreu na Macedonia, em 406 a.C.
Dissabores domésticos, segundo se supõe, devem ter ensombrado a vida o poeta. Por duas vezes se consorciou, e de ambas foi infeliz, o que concorreu para a irritabilidade que transparece no caráter de suas personagens, e para os fracassos que tornaram acidentada sua carreira de autor dramático, até que se conlidasse sua reputação.
Euripedes escreveu quase uma centena de peças, das quais algumas restaram inteiras. Venceu quatro vezes o festival de teatro ateniense, sendo a primeira em 441 a.C. Ao contrário de Ésquilo e Sófocles, que renovaram a encenação em vários pontos, Euripedes contribuiu, do ponto de vista do espetáculo, com apenas duas grandes inovações: o prólogo – um resumo dos antecedentes da tragédia, isto é, dos acontecimentos que levaram àquele momento trafico focalizado pela peça -, e o recurso cenográfico conhecido como deus ex machina, que significa literalmente "Deus surgido da máquina", expressão que é uma tradução do grego "ἀπὸ μηχανῆς θεός" (apó mechanés theós). A origem dessa expressão encontra-se no teatro grego e refere-se a uma inesperada, artificial ou improvável personagem, artefato ou evento introduzido repentinamente em um trabalho de ficção ou drama para resolver uma situação ou desemaranhar uma trama. Este dispositivo é na verdade uma invenção grega. No teatro grego havia muitas peças que terminavam com um deus sendo literalmente baixado por um guindaste até o local da encenação. Esse deus então amarrava todas as pontas soltas da história. A expressão é usada hoje para indicar um desenvolvimento de uma história que não leva em consideração sua lógica interna e é tão inverossímil que permite ao autor terminá-la com uma situação improvável porém mais palatável. Em termos modernos, Deus ex machina também pode descrever uma pessoa ou uma coisa que de repente aparece e resolve uma dificuldade aparentemente insolúvel. Enquanto que em uma narrativa isso pode parecer insatisfatório, na vida real este tipo de figura pode ser bem-vindo e heróico. A noção de Deus ex machina também pode ser aplicada a uma revelação dentro de uma história vivida por um personagem, que envolva realizações pessoais complicadas, às vezes perigosas ou mundanas e, porventura, seqüência de eventos aparentemente não relacionados que conduzem ao ponto da história em que tudo é conectado por algum conceito profundo. Essa intervenção inesperada e oportuna visa a dar sentido à história no lugar de um evento mais concreto na trama.
Distingue-se a obra de Eurípedes da de seus concorrentes precisamente porque as cenas e as personagens por ele imaginadas se aproximam da realidade, ao passo que os heróis de Esquilo e Sófocles se mostram superiores à capacidade de agur e sentir factuada aos mortais. Por isso mesmo, como salientam quase todos os biógrafos, a obra de Euripedes foi muito mais apreciada nos tempos futuros, inspirando o maior número de imitadores na literatura moderna.
Em suas obras, procurou Eurípedes manter o interesse da assistência pela variedade das situações e pelo que havia de patético no desfecho dos episódios. Já se nota mais nitida a separação entre ação principal, e os cantos do coro. No prólogo, é uma personagem, e não raro, uma divindade que informa o publico dos antecedentes, preparando a compreensão dos episódios seguintes. No final, uma divindade, como Castir e Pólux, ou os Dióscuros na Electra, quem diz a última palavra quanto ao destino dos personagens.
Como os trágicos que o antecederam, Eurípedes também escreveu sobre os deuses e heróis da Grécia – todos eles apresentados numa dimensão que reflete a cultura ateniense de sua época, tornando-se, pois, o terceiro dos grandes autores dramáticos.

FONTE:
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