terça-feira, setembro 23, 2008
O TEATRO LATINO: PLAUTO & O TEATRO ROMANO
O TEATRO NA ROMA ANTIGA – Quando entraram em contato com os gregos, os romanos ficaram particularmente encantados com as divertidas possibilidades que os comediógrafos ofereciam para distrair patrícios e plebeus. Mas antes de adotar um gênero, tiveram o cuidado de apagar dele qualquer traço político ou religioso, encampando o que as comédias tinham de mais secular e lúdico. Assim, às contundentes ironias políticas de Aristófanes, preferiram seguir o exemplo das sátiras de Menandro, mas elegantes e com marcada preferência por termas individuais – problemas familiares e amorosos, aventuras de tristes crianças abandonadas e reencontros românticos. Esse contato com a Grécia: significou a morte do primitivo teatro romano, que imediatamente copiou as formas gregas de tragédia e comédia, começando por traduzir peças gregas do séc. III aC, depois estrangeiros radicados em Roma e depois romanos escreveram peças, adaptando temas gregos, ou inventando mesmo temas romanos, normalmente baseado na História. Por esta razão O teatro romano possuía diferentes gêneros, misturados pelas influências etruscas e de espécie de representações religiosas de caráter sério ou satírico itálicas.
O apogeu do teatro romano deu-se no séc. III-II a.C com Plauto e Terêncio. Quer a comédia, quer a tragédia romana, tinham diferenças com os seus modelos gregos, pois, insistiam mais no horror e na violência no palco que era representada, grande preocupação com a moral, discursos elaborados. Do ponto de vista formal existiam diferenças, como na divisão em atos, no coro, etc. Com o tempo, notadamente no final da república, o público perdeu interesse pelo teatro tradicional, pois a concorrência dos espetáculos com mais ação envolvendo gladiadores, corridas de carros, e a criação de gêneros teatrais mais simples como as pantominas, que eram a representação de um único ator de uma peça simples e de fácil reconhecimento pela audiência, em que não falava, dançava, fazia gestos, e era acompanhado por músicos e um coro. E também os mimos, que eram historias também simples mas com vários atores, em que normalmente se satirizava tipos sociais de forma mesmo obscena.
No período imperial, se na parte oriental do império, continuaram a representar as peças tradicionais, sobretudo de autores da chamada nova comédia como Menandro. No ocidente malgrado uma tentativa de autores como Séneca de ressuscitar o gênero, o público preferia os espetáculos de mimos e pantominas. O motivo apresentado era a dificuldade dos latinos menos instruídos de compreenderem peças complexas, e preferirem espetáculos simples e que apelassem aos sentidos.
Assim perfilando-se aos espetáculos circenses e mimos improvisados, a comedia latina, cujos autores representantes foram Andronicus, Plauto e Terencio, logo se fez aceitar pelo povo romano, enquanto a aristocracia ouvia com muita gravidade a leitura das tragédias de Sêneca. Estas jamais puderam concorrer com a popularidade das comedias que, apesar da pouca sutileza psicológica, eram repletas de motivos familiares aos romanos. Nelas não faltavam disfarces, travestimentos, truques de escravos, obscenidades, vigor colorido e permanente invenção da intriga.
Durante todo o período de expansão política de Roma e, na fase em que o império mostrava sinais de decadência, a comedia popular manteve um publico certo. E nem mesmo a adoção do Cristianismo – impondo seus valores a um mundo que se fragmentava – foi suficiente para mudar de imediato os costumes. O povo continuava vibrando com a licenciosidade do mimo e da pantomina, forma dramática sem palavras, baseada na imitação mais ou menos estilizada.
No século V, numa de suas primeiras manifestações de autoridade, a igreja acabaria por excomungar os atores, medida que não foi suficiente para terminar com o espetáculo. Assim, no seculo seguinte, os teatros foram rigorosamente proibidos de funcionar. Isto porque a igreja via com maus olhos os gêneros artísticos que ou se referiam a deuses pagãos ou troçavam abertamente dela como os espetáculos de mimos, levando à sua progressiva perseguição, para além dos aspectos que considerava imorais – notadamente com a representação de cenas licenciosas ou mesmo nudez. A última referência que existe de uma representação de uma peça de teatro é do séc. VI e sabe-se que Teodora a imperatriz esposa de Justiniano fora atriz de teatro. Depois disso, só se ouve falar dos artistas de teatro pelas proibições sucessivas e sermões de membros da igreja que referem mimos que andam de terra em terra espalhando a imoralidade.
Mesmo assim os romanos construíram vários teatros especificamente para representações, mas na maioria dos casos nas pequenas cidades utilizavam edifícios para vários usos de anfiteatros, usando para espetáculos de gladiadores, corridas, representações. Dedicar-se ao teatro era muito mal visto: os atores eram normalmente escravos ou ex-escravos; raramente mulheres representavam, tendo má reputação as que o faziam, vez que os papéis femininos eram feitos por homens. Ficaram conhecidos imperadores com uma enorme paixão pelo teatro. Nero é o mais conhecido: adorava espetáculos de mimos, acabou por casar com um depois de se livrar de Pompeia e representava ele próprio; dado o baixo estatuto dos atores, normalmente escravos ou ex-escravos, isso foi provocando escândalo na época. Há que se notar também, que vários imperadores apresentados como crueis ordenavam que os os espetáculos se tornassem realistas: quando aparecia no guião que o personagem era morto, substituia-se o ator por um condenado à morte. Inclusive existe registrado o caso de uma representação de uma peça que relatava a união entre Europa e Zeus sobre a forma de touro e uma condenada à morte foi de fato unida a um touro.
PLAUTO - Tito Mácio Plauto (230 a.C. - 180 a.C.) foi o dramaturgo romano que viveu durante o período republicano. As 21 peças que escreveu se preservaram até os dias atuais e datam do período entre os anos de 205 a.C. e 184 a.C. Considerado o maior comediógrafo da Roma antiga, primeiro atuou como ator e depois escrevendo comédias. As suas comédias são quase todas adaptações de modelos gregos para o público romano, tal como ocorria na mitologia e na arquitetura romanas. Seus trabalhos foram também fonte de inspiração para muitos renomados escritores, tais como Shakespeare, Molière, entre outros. Estima-se que tenha escrito 130 peças, das quais apenas 21 sobrevivem. Seus enredos, personagens e ambientação são copiados de autores da Nova Comédia Grega, como Menander, Filemon e Diphilus. Adiciona numerosas alusões romanas e introduz elementos de canto e dança. Com métrica elaborada e linguagem coloquial, sua obra reproduz com fidelidade a vida dos romanos da época. Os enredos são em geral baseados em casos de amor ou confusões decorrentes de troca de identidades, mas apresentam grande originalidade no tratamento dos temas. Os seus personagens são de origem popular: escravos mentirosos, Ladrões, velhos, soldados fanfarrões, cortesãs, etc. Do grupo das comédias autênticas, conhecidas como Varronianae, chegaram até o presente alguns fragmentos da Vidularia e as vinte peças seguintes: Amphitruo, Asinaria, Aulularia, Bacchides, Captiui, Casina, Cistellaria, Curculio, Epidicus, Menaechmi, Mercator, Miles gloriosus, Mostellaria, Persa, Poenulus, Pseudolus, Rudens, Stichus, Trinummus e Truculentus. Destre essas, a Aulularia, que quer dizer marmita, é considerada uma comédia de intriga e de caráter. Como comédia de intriga, apresenta duas ações: uma voltada para as peripécias e confusões de Euclião, surgidas depois de ele haver encontrado, na lareira de sua casa, uma marmita cheia de ouro; outra, centrada na história de amor de sua filha, grávida de Licônides, e que será pedida em casamento por Megadoro, sem que este e seu futuro sogro saibam da gravidez da moça. Os dois enredos, com predominância do primeiro, são independentes um do outro, mas encontram-se entrelaçados, uma vez que seus principais incidentes, o roubo da marmita e a confissão de Licônides, vão se combinar, no fim da história, para solucionar o problema de Euclião, de sua filha e do rapaz que, com a ajuda da mãe, levará o tio a desistir do casamento. Nesse momento, já ciente do drama dos dois jovens e da desistência de Megadoro, Euclião concede Fedra em casamento a Licônides e dá ao casal a marmita recuperada. Este final feliz, mostrando o desprendimento do protagonista, não consta da Aulularia. É de autoria de Codro Urceo, um latinista do século XV, que refez o último ato, com base nos argumentos, no prólogo e no IV fragmento da peça, a qual chegou até nós com o referido ato incompleto, contendo apenas fragmentos de sete versos. Como comédia de caráter, a peça converge para um outro centro de interesse: a avareza de Euclião, tema em torno do qual gravitam as preocupações e temores do velho avarento, bem como suas manias e suspeitas infundadas.
Aqui o objetivo de Plauto é outro: pintar Euclião como uma figura ridícula e um pobre diabo que ficou transtornado com a súbita descoberta de um tesouro.
FONTE:
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