segunda-feira, maio 25, 2009
ZÉ RODRIX (1947-2009)
Tudo começou quando Elis Regina gravou “Casa no campo”, uma parceria do Zé Rodrix e Tavito que havia sido a vencedora num festival de Juiz de Fora, em 1971. Quem não sonhou embalado pelos acordes da canção? A minha amiga médica e critica literária alagoana, Cidinha Madeiro, que o diga.
Depois, lembro-me bem quando, em 1974, coloquei os olhos sobre o disco “Quem sabe sabe quem não sabe não precisa saber”. Foi. Era eu um aborrecente duns 14 anos e já andava vasculhando, pesquisando e sempre curioso revirando e arranjando atrás de coisas novas. Tudo que eu pegava nessas descobertas, eu corria até a Praça Maurity e dava na casa da Vania, uma amiga de adolescência, curtidora e minha iniciadora em rocks muito doidos e o melhor da música nova brasileira. Ela era colega de escola e a gente ficava tarde e noites madrugadas adentro curtindo todo tipo de som: Beatles, Mutantes, Yes, Rita Lee, Led Zeppelin, Bob Dylan, Pink Floyd, Secos & Molhados, Casa das Máquinas e por aí vai. Inclusive Zé Rodrix! Claro, era por causa do trio Sá, Rodrix & Guarabira que a gente fuçava o rock nacional, a ponto de chegar até nos discos dos Fevers da época, para ouvir as últimas faixas de cada lado trazendo sempre rocks do trio. Foi por aí.
Depois foi que soube se tratar do pseudônimo de José Rodrigues Trindade, um compositor, multiinstrumentista, cantor, publicitário e escritor carioca, que estudou no Conservatório Brasileiro de Música. Ele passou a ser conhecido em 1967 no festival da Record, quando acompanhou o Quarteto Novo, Maria Medalha e Edu Lobo, na música Ponteio. Depois, em 1968, grava o disco com o grupo Momento Quatro. Em 1970, participou da banda Som Imaginário que gravou um disco e, também, acompanhava Milton Nascimento. Em seguida, formou o trio de rock rural ao lado Carlos Sá e Gutermberg Guarabyra, nos anos 70, gravando inúmeros discos. Neste período ainda gravou discos solos, como Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber, em 1974; Soy Latino Americano, em 1976; O Esquadrão da Morte - Trilha Sonora do Filme, em 1976; Quando Será?, em 1977; Hora extra, em 1979 e Sempre Livre, em 1979. Daí participou do grupo Joelho de Porco. Nos anos 80 e 90 dedicou-se à publicidade. Em 2001, volta a se reunir com Sá e Guarabira, gravando Outra Vez na Estrada - Ao Vivo, em 2001; e Amanhã, em 2008. É autor dos livros Johaben: Diário de um Construtor do Templo, Zorobabel: reconstruindo o templo e Esquin de Floyrac: O fim do Templo, que integram a trilogia do templo maçônico. Além de tudo isso, Zé Rodrix também andava conectado com a nova turma da música, apoiando e chegando junto, a exemplo de sua participação solidária e constante no Clube Caiubi de Compositores.
Na última quinta-feira, dia 21, por volta da meia-noite, estava em casa com a familia, quando passou mal e foi levado para o Hospital das Clinicas, em São Paulo, onde faleceu aos 61 anos de idade. Desse fato e a respeito dele, fala Ruy Neto (...) Mesmo não o conhecendo pessoalmente sempre tive grande admiração por Rodrix - uma das minhas músicas preferidas é “Nunca senti tanto medo de ser feliz”, interpretada pelo seu parceiro Sonekka e por Barbara Rodrix, filha dele. E faço este post-homenagem também para que os leitores desse blog lembrem de Rodrix com muita alegria e bom humor, da forma como ele queria no seu auto-necrológio que escreveu há algum tempo, em 2004, e que estava guardado com o jornalista Alan Romero, em Lisboa”. Foi por isso que ouvi e conferi as parcerias do meu também parceiro Sonekka com o Zé Rodrix. Mas, melhor se expressa a poeta e escritora Sandra Falcone com a cronica abaixo, cujas palavras faço minhas:
Zé Rodrix e a nossa casa!
Zé Rodrix participou da minha vida, num momento especial e doloroso. Desde muito menina sempre sonhei com uma casa (estilo 50), chegava mesmo a andar em sonhos pelos cômodos. Os arcos, os jardins, o quintal. Um dia, passando por uma rua vi uma placa de aluga-se e fui olhar a casa – embora, naquele momento, morasse num apartamento recém comprado, lindo nos Jardins. Mas a placa e a delicadeza da fachada fizeram com que eu quisesse ver a casa por dentro. Havia um porteiro e assim fiz. Mal entrei já sabia que era a “minha casa”. Quando tentei alugar, contra a vontade de todos, inclusive do meu marido, não dei ouvidos. Era cara demais, comia metade do meu salário. Resumindo, tinha umas três pessoas na minha frente, com condições melhores cadastrais, mas a casa foi alugada pra mim. Morei de aluguel durante três anos, um dia uma vizinha me ligou e disse que queria comprar meu apartamento e pagou a vista. Imediatamente liguei para o dono da casa que se recusou a vender. Depois de muitas investidas consegui comprar. No dia da assinatura da escritura, o ônibus que eu estava (o proprietário morava no interior) chegou a pegar fogo.
Eu amava aquela casa, chegava mesmo a beijar suas paredes. Fui feliz nela durante mais de 10 anos. No entanto, aos poucos, meu casamento foi se deteriorando. Meu ex marido tornou-se uma outra pessoa desconhecida e não me deixava colocar um dedo na casa, a piscina sempre suja, destruiu o jardim, cortou minha goiabeira. Meu cão de guarda, Morris, que eu tanto amava, morreu. Parecia que a casa e o cão acompanhavam, fisicamente, o desmoronamento do meu casamento.
Quis me separar, ficar com a casa, mas meu marido não arredou o pé, tornando a minha vida insuportável. Resolvi me separar e sai da casa. Tempos depois como a casa era muito grande, entramos num acordo para vender a casa. O Zé Rodrix comprou dando a dele como entrada.
Uma linda e pequenina casa que eu pretendia morar. Alguns meses depois, descobri que seria impossível morar nela, pois todas as casas do bloco da rua haviam sido vendidas e a minha ficaria no meio de prédios de mais de 20 andares, espremida, sem luz, ou seja, um inferno. Vendi também.
Certa vez num programa do Jô ele disse que morava na casa de campo (em alusão ao seu maior sucesso) mas na cidade. Entendi perfeitamente o que ele queria dizer. Eu chorei a noite toda e ainda choro quando passo pela casa, que ele conservou como era, pintando na cor branca que eu sempre desejara pintar e tirando as grades das janelas que tanto me incomodavam.
Sempre fiquei feliz que a venda tenha sido feita para ele, pois imaginava a minha casa ouvindo suas canções. Era como me sentisse perdoada por ela, por te-la abandonado!
A nossa casa hoje, deve estar chorando a sua perda, como chorou no dia que eu sai.
Sandra Falcone
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