domingo, abril 25, 2021

WALBER BARRETO, ENTREVISTA & O TEATRO DE PALMARES

 

 

O TEATRO EM PALMARES – O teatro em Palmares vem de longa data. O primeiro que se tem notícia lá de antanho, foi o do poeta e dramaturgo Miguel Jasseli, que foi o professor e quem incentivou os primeiros passos de Hermilo Borba Filho. Depois, por décadas, vieram as tragédias de Fenelon Barreto e as comédias de Lelé Correa. Depois destes houve um hiato e só na segunda metade dos anos 1970 é que a atividade é retomada na cidade. O recomeço se deu com o propósito de reencenar as peças de Fenelon que malograram depois de ensaios e muitos da peça Adoração, que chegou a ficar com quase tudo pronto, não fosse a intervenção familiar por questões financeiras obstando o projeto. Resolvi então encenar o meu próprio texto O prêmio – Em busca de um lugar ao sol sob a especulação imobiliária -, com uma turma nova sob a direção de Eduardo Germano – sobrinho do legendário Claudionor Germano e que estava passando uma temporada com a gente. A peça foi encenada na quadra do Colégio Diocesano e o resultado foi um sucesso. Parti para o meu segundo texto, A viagem noturna do Sol, que foi encenada em Recife, pelo TTTrês Produções, com direção de José Manoel Sobrinho. Ao retornar à terrinha para adaptar, dirigir, musicar e encenar João Sem Terra, de Hermilo Borba Filho, encontrei muita gente disposta para o elenco. Não deu outra, além de re-inaugurar o palco do Teatro Cinema Apolo, então sede da Fundação de Hermilo, de uma leva só criamos a AssociaçãoTeatral Palmarense (ATEP), pois cadastramos as atividades de 21 grupos teatrais em Palmares, fato que me levou a assumir a direção regional da Feteape, organizando a classe com oficinas e intercâmbios. Aí vieram encenações conjuntas de Contrastes Natalinos, depois O astro vermelho, de Ângelo Meyer e Pei, bufe, etc e coisa e tal, de Luiz Berto. Já era anos 1990 e me esgueirei pelo Brasil afora, tocando minhas atividades e outros projetos teatrais. Passaram-se os anos e retornei à cidade com o objetivo de encenar meu espetáculo infantil Nitolino no reino encantado de todas as coisas, o que não foi possível, pois não encontrei eco para tal realização, deixando-o para outras localidades. Mas o bom mesmo, foi tomar notícias de que a atividade estava sendo retomada por ali. E o melhor: por alguém que conhecia desde o bucho da mãe, vez que o pai dele, o Vavá de Aprígio é um parceiro de infância e de atividades musicais. Quantas vezes fui ao pai dele e o via menino, agarrado na saia da mãe, muitas. Taí, o menino cresceu e tornou-se o ator e professor Walber Barreto que, de antemão, já recebe meus aplausos de pé pela trajetória. Para saber dele, confira a entrevista abaixo.

 

ENTREVISTA: WALBER BARRETO

 


LAM - Walber, como e quando se deu seu encontro com o Teatro?

 

Meu encontro com o teatro se deu no período de escola e grupo jovem da igreja, onde na ocasião participava das apresentações tanto dos trabalhos escolares, festas comemorativas e eventos religiosos, vem a lembrança agora deste último citado com o surgimento do teatro lá no Egito e Grécia Antiga, que foi justamente com os ritos religiosos, assim aconteceu comigo.

 

LAM - Quais as influências da infância e adolescência levaram você para a definição profissional pela arte?

 

Eu não tive alguém na minha infância e adolescência que viesse me influenciar, posso dizer que o tudo que contribuiu foi justamente as apresentações na escola e igreja como falei anteriormente, também tive uma infância de verdade onde se juntava a meninada da rua e os primos para brincar de vários coisas naquela época que não existia internet, graças a Deus, creio que tudo isso foi despertando em mim o gosto pela representação, como também personagens de programas infantis na TV, que muitas vezes me pegava dizendo a mim mesmo que iria ser ator para trabalhar na TV.

 


LAM - Você começou sua carreira no Projeto Arteatro. Fala pra gente como foi essa experiência.

 

Foi aí que tudo começou para valer, em 1996, eu era estudante do Ginásio Municipal, em Palmares, e um grupo de atores da cidade, hoje meus amigos, criaram o Projeto Arteatro que era um curso de Iniciação ao Teatro, ofertado às escolas da rede pública, participei do curso ministrado pela atriz Tereza de Lima, no término nos apresentamos no Cine Teatro Apolo com o espetáculo O Santo e Porca, de Ariano Suassuna, eu na personagem Euricão, com todo esse processo do Arteatro despertou em mim a vocação para às artes cênicas que dei continuidade na minha vida.

 

LAM - Fala como se deu a experiência das performances com personagens da cultura popular.

 

Experiência maravilhosa, a cultura popular é belíssima com seus folguedos, muitas vezes atuei em eventos fazendo animação tanto com a personagem Mateus, como também Catirina, figuras do Bumba Meu Boi, são momentos prazerosos e enriquecedores, pois são performances em cima da improvisação, sabemos apenas das existências das personagens e nada mais, tudo é criado na hora com a plateia, sem ensaio, sem decorar texto, isso é um momento fantástico onde esses folguedos nos proporcionam.

 


LAM - Você já atuou com textos relevantes do teatro. Como foi entrar em cena e a recepção do público?

 

Sim, textos como O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, Quem é Rico Morre Inchado, de Hermilo Borba Filho, O Discurso da Pura Razão, de Elmar Castelo Branco, entre outros textos de peso da dramaturgia. É sempre uma responsabilidade dar vida a essas personagens, o friozinho na barriga realmente dar em todo ator na hora de entrar cena, mas após alguns minutos esqueço quem sou e quem passa a viver naquele momento é a personagem, só dou conta de mim quando a cortina fecha e volto ao palco para agradecer. Costumo dizer que somos médiuns e incorporamos as personagem por algumas horas. Como é gratificante a reação do público durante e depois da encenação, em presenciar a emoção da plateia, tanto com gargalhada, choro, indignação, aplausos, o importante é saber que o recado foi dado, doa a quem doer, que o objetivo foi alcançado, até chegar ao ponto de pessoas se levantarem e ir embora no meio da peça, porque a personagem tocou em suas feridas e acham que vão ser desmascaradas. Estou em um espetáculo que acontece isto, e o diretor diz que é maravilhoso quando isso acontece, pois mostra realmente que a encenação mexeu com esta pessoa.

 

LAM - Você é professor de teatro. Fala dessa sua atividade e da proposta do projeto Mais Educação.

 

No momento não estou como professor de teatro, exerci esta função por seis anos no Projeto Mais Educação, um projeto federal destinado às escolas públicas que visa deixar a criança em tempo integral na escola, onde no contra turno da grade curricular, essas crianças tenham aulas de reforços e oficinas culturais. A educação precisa de projetos iguais a estes, pois eu sou um resultado de um projeto assim lá na minha adolescência, como já falei aqui anteriormente do Arteatro. Assim como eu despertei a minha vocação e hoje sou um ator profissional, muitas crianças podem despertar também e posso dizer a você que muitos davam um show nas nossas encenações, eu costumava dizer aos meus estudantes que o teatro na escola não era apenas para descobrir talentos, mas para ajudar na formação de todos, pois os exercícios teatrais proporcionam desenvolvimentos cognitivos, relaxamento, expressões corporais e voz que servirão para todas as profissões, como na vida pessoal.

 


LAM - Conta pra gente como se deu a realização exitosa do Discurso da Pura Razão.

 

Nossa!!! Foi um processo de muito tempo, uns 16 anos atrás. Meu amigo, diretor, produtor e ator Gilvan Mota fez o convite para mim, eu na atuação e ele na direção, o texto é um monólogo, escrito por Elmar Castelo Branco, que trata das opressões e discriminações sociais e religiosas que levam a personagem à loucura, fato vivenciado pelo próprio autor. Pois bem, começamos sem compromisso nos finais de semanas tomando uma cervejinha e fazendo a leitura do texto, passamos a ensaiar, mas devido a um problema de saúde que tive paramos e passamos alguns anos com o projeto engavetado. Com o passar do tempo voltamos com o processo da montagem, eu e ele, estudando, pesquisando, ensaiando, fazendo laboratório, enfim fizemos uma estreia como um ensaio geral, percebemos que ainda precisava de reajustes, lá vamos voltar ao estudo, Gilvan tem a ideia de colocar duas personagens em cena para auxiliar a minha, assumindo a função de contrarregras em cena, casou perfeitamente e fizemos uma reestreia. Fazer O Discurso da Pura Razão é uma realização em todos os aspectos para mim, em poder vivenciar várias personagens em uma só, "o louco", ou quem sabe, o "são", porque o texto leva a esta reflexão de quem é realmente louco, até onde nós somos "sãos" e os doentes mentais, "loucos", uma verdadeira loucura, né? E foi todo esse universo da loucura que o espetáculo conquistou três prémios no FESTERÁGUAS – 2019, em São Benedito do Sul-PE, nas categorias Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Espetáculo. O prêmio é maravilhoso, mas o mais gratificante foi ouvir do amigo do autor(já falecido) que viu Elmar em cena através de mim, é também quando uma pessoa da plateia depois do espetáculo vem perguntar a mim se aquilo que a personagem disse foi com ela. É uma honra para mim fazer O Discurso da Pura Razão, sinto-me realizado. Obrigado ao meu amigo Gilvan Mota pelo presente que me deu e obrigado às minhas amigas Tereza de Lima e Paula Mendes por contracenarem comigo e enriqueceram o nosso espetáculo com tanto talento de vocês. ASSISTAM!!!

 

LAM - Em tempos de pandemia, quais as perspectivas para o ator?

 

De dias melhores, não estar sendo fácil para quem depende da arte para sobreviver, se em dias "normais" a dificuldade é imensa, imagine com essa pandemia, com toda essa restrição de convivência social, vamos ser otimistas e ter fé que tudo isto passe logo para podermos voltar às produções e seguir nossa vida profissional.

 


LAM - Você foi vencedor da 6ª Olimpíada de Língua Portuguesa e atua na área. Conta pra gente como se desenvolve essa atividade.

 

Sou professor de Língua Portuguesa, no momento me encontro desempregado, mas de 2018 a 2020 fui professor da rede municipal de Caruaru-PE, em 2019 aconteceu a 6ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, concurso nacional que acontece a cada dois anos destinado às escolas públicas do todo país, na ocasião era professor da ETI Álvaro Lins. A Olimpíada é realizada com as produções de alguns gêneros textuais selecionados por anos escolares, minhas turmas concorreram com o gênero crônica, começamos pela a escolha do melhor texto da turma, depois da escola e assim passando pelas etapas municipal, estadual, regional e nacional, o estudante Jairo Bezerra venceu todas estas etapas com sua crônica "Escola Fábrica, Fábrica Escola", participamos dos eventos da semifinal e final em São Paulo, conquistando as medalhas de bronze, prata e ouro. Foi um momento inesquecível e muito gratificante em competir com milhares de estudantes e professores de todo o país e ser vencedor. Vivenciamos momentos mágicos e a cerimônia de premiação na Sala São Paulo foi emocionante, logo na abertura para nossa surpresa entra o cantor Lenine cantando Leão do Norte, nossa, para nós que estávamos representando Caruaru, Pernambuco e escutar essa música exaltando o nossa Estado, foi eufórico demais e para coroar esta felicidade, vem a conquista do ouro. Só tenho a agradecer a todos os envolvidos neste belíssimo projeto que valoriza o ensino da nossa Língua Portuguesa em nosso Brasil.

 

LAM - Quais os projetos você tem por perspectiva de realizar?

 

No momento não tenho nada programado, "deixa a vida me levar", sou apaixonado pela arte teatral e com isto minhas perspectivas são de poder conquistar a cada dia novos horizontes, ultrapassar fronteiras e tornar meu trabalho cada vez mais reconhecido.

 


WALBER BARRETO –O ator e professor Walber Barreto Pinheiro nasceu em 25 de março de 1980, é filho do músico Vavá de Aprígio e da empresária Dêdêu Barreto. Estudou no Grupo Escolar Municipal Poeta Milton Souto, Ginásio Municipal e FAMASUL - Palmares. Iniciou a carreira de ator no Projeto Arteatro, em 1996, atuando em peças teatrais e realizando performances de Teatro Popular, participando de projetos como Mais Educação. Atuou no monólogo O discurso da pura razão, do premiado dramaturgo, pintor e advogado Elmar Castelo Branco , falecido em 2017, pelo qual foi premiado como melhor ator no Festeráguas 2019, em São Benedito do Sul. Como professor de Língua Portuguesa, foi vencedor da 6ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, 2019, com o estudante Jairo Barbosa, na Rede Municipal de Caruaru. Veja mais Teatro aqui, aqui e aqui.