quarta-feira, janeiro 02, 2008

BERTOLT BRECHT



Foto: DPA.

Que esperam ainda de mim?
Fiz todas as paciências, vomitei o Kirsch todo,
Empilhei todos os livros no fogão,
Amei todas as mulheres até cheirarem mal como o Leviatan.
Agora sou um grande santo, a minha orelha está tão podre que em breve cairá,
Então por que não há paz? Porque já sempre gente no pátio, caixotes de lixo à espera que lá deitem qualquer coisa.
E no entanto já me fiz entender que não devem esperar de mim o Cântico dos Cânticos.
Atirei a polícia contra a freguesia,
Quem quer que procurem, eu não sou quem procuram.
De todos os meus irmãos sou eu o mais prático.
- E isto começa pela minha cabeça.
Os meus irmãos eram cruéis, eu sou o mais cruel, e choro de noite.
Com as tábuas da lei acabaram-se os vícios.
Já se dorme com a irmã, sem nenhum prazer.
O crime tornou-se demasiado penoso.
Fazer versos é coisa por demais comum.
Em face da incerteza do momento
Muitos preferem dizer a verdade
Sem pensar no perigo que daí advém.
As cortesãs salgam a carne para o inverno,
E o diabo já não vem buscar os melhores fregueses.

(Bertolt Brecht, Que esperam ainda de mim).

O dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), antes de ser um expoente da arte dramática e poética do século XX, estudou medicina e trabalhou como ordenança em hospitais durante a Primeira Guerra Mundial, sendo, pois, filho de burgueses, de que cedo se separou, educado no protestantismo que cedo renegou, militar a contragosto, exilado em vários países, impedido de entrar na sua pátria, forçado a mudar de nacionalidade, vítima e testemunha de duas grandes guerras. Por isso, além do teatro, dedicou-se aos estudos sobre sociologia e marxismo, defendendo que a forma época é a única capaz de apresentar as determinantes sociais das relações inter-humanas. Iniciou-se no teatro moderno em Berlin onde encenou suas primeiras peças. O seu teatro tornou-se um retrato do tempo e da posição engajada do autor. Foi premiado com o Prêmio Lênin da Paz, em 1954. Várias de suas peças tornaram-se clássicos do teatro planetário. E com a sua atuação, escreveu o livro “Estudos sobre teatro”, traduzido por Fiama Pais Brandão. Nesta obra ele questiona se o mundo poderá ser reproduzido pelo teatro, questionando peças e representações, óperas, teatro recreativo, teatro didático, efeitos de distanciamento na arte dramática chinesa, as cenas de rua, a nova técnica da arte de representar, a obra clássica intimidada, o Pequeno Organon para o teatro e a dialética no teatro. Na segunda parte ele aborda questões acerca da práxis no teatro, Sófocles, a utilização de um modelo, a contribuição da música para o teatro épico, a música-gesto e uma carta a um ator.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
_______. Poemas. Lisboa: Presença, 1970.

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